terça-feira, 13 de dezembro de 2011

NOS BURACOS DO TEMPO - parte 2


O que talvez primeiramente nos passe desapercebido é justamente, ou melhor ainda, é crucialmente o que nos dará algum sentido ao episódio narrado, fazendo quem sabe, saltar dele algo do que ainda não se viu, mas que parece ligeiramente oculto na história clichê do adolescente. Supostamente todos já fizeram algo parecido ao que faz nosso Rodolfo, ou quando não, quiseram muito fazer e não fizeram por serem por demais perigosas as circunstâncias ou em outros casos, por serem muito contundentes os batimentos cardíacos e muito intenso o frio no estômago. Há ainda os casos daqueles que foram vítimas dos espiões e ainda os que apenas ouviram essas peripécias pela vizinhança.
Por outro lado, sempre houveram as descuidadas ou as maliciosas, fazendo-lhes conforme a vontade e ao direito de se trocarem ou se despirem sem vergonhas e como quizessem dentro de seus próprios lares. Mas no ato de Aline há o que nem sequer o menino espião foi capaz de se dar conta, ou talvez tenha percebido perifericamente, sem desperdiçar detalhadas atenções com coisas fora do primeiro plano, o qual sabemos muito bem qual é. Sabemos mesmo que é um tanto quanto comum pararmos por alguns segundos numa mesma posição, como que abdusidos por algo que parece totalmente fora de um dado encontro, de um dado momento, porém mesmo sem pesquisas de campo, arriscamo-nos concluir que esses momentos de congelamento duram apenas alguns segundos, dificilmente chegando a completar sessenta deles. Entretanto, não nos custa repetir que a moça permanecera numa mesma posição, sem qualquer movimento visível, por longos minutos. O que de muito contém este detalhe não se sabe, embora possam estar curiosos alguns. Esperamos que no desenrolar dos acontecimentos vindouros se possa arejar a dúvida, mesmo porque, responde-la simplesmente, seria demasiada arrogância.
Ali em frente a janela, espreitando por entre a persiana, Rodolfo percebe algumas sombras também estáticas, mas nada, nada é capaz de lhe roubar o foco até o momento de seu ápice e consequente rápido declive. A menina segue seu ritual e já com seu baby doll, fecha a janela, momento em que também Rodolfo se recolhe e vai para cama, assim como sua deusa vizinha, crendo ele, com sua fé tortuosa, mas paradoxalmente como um bom fiel, que sua divindade não o olha o suficiente, quem sabe até chegando a tal ponto, que disparate, de desconhecer sua existência.
Amanhece o dia e a primeira atitude pensada do rapaz é a de abrir a persiana e após ela a janela, e se pôr a olhar um pouco mais despreocupadamente o quarto de Aline, cujas janelas abertas mostram sua ausência, como já previa Rodolfo. De férias, o bom aluno decide ver um filme, daqueles bem antigos e ainda em vídeo cassete, atitude “retrô” ocasionada por não o ter encontrado em dvd. Sentado na sala, desfrutando as frutas do café da manhã, pausa e despausa a película por inúmeras vezes, volta cenas, as revê em câmera lenta. Ali é o dono do tempo, o deus das vidas que desfilam sem lhes saber o que o futuro as reserva. Ele, ao contrário, já o sabe. Vê o tempo não como os personagens o vêem, passado, presente, futuro, uns após outros, mas sim como num plano eterno cujo o desenrolar é uma imagem apenas, cíclica e longa. Em sua poltrona confortável, esparramado entre almofadas de pano frio, viaja para algo maior ao ver em câmera lenta uma cena. “Será que o tempo da gente, da vida real, não é como o do filme? Mesmo que não haja alguém para vê-la, a imagem não é mais aberta e arredondada que uma linha reta, como imaginamos?” Dali ao segundo seguinte é um espanto! Saltando do sofá e atirando involuntariamente por todos os lados as almofadas de pano frio, ele pensa audaciosamente se o tempo da vida real não é espaçado tal qual num filme. Pois sim, onde nossos olhos enxergam uma continuidade por entre um acontecimento e outro, como que costurados, não seriam eles limitados e um tanto lentos para perceberem os espaços vazios entre um instante e outro. E se, naquele momento de espião, onde Aline se detém por um tempo longo demais e as sombras não se movem, não estivera ele justamente num dos buracos do tempo real?


(CONTINUA...)

38 comentários:

Unknown disse...

Sua narração nos prende de tal maneira, que seus textos sempre serão curtos independentes de quantas linhas eles tenham, pois ele não cansa e sempre nos deixa querendo mais!

Blog UaiMeu! disse...

Gosto desses textos que tem continuação pois mostram que o texto é um emaranhado de ideias.

Gostei do seu texto, aguardando a continuação

Emmanuella Stella disse...

Esperando a continuação ansiosamente !! :)

Bárbara disse...

Gostei do blogg =)
beijão
Bárbara

paradigmas universal disse...

A vida é um espaço no tempo.

Vane disse...

Adorei o blog. Estou te seguindo. Se der passa no meu.
http://amostragratisrecebidas-vane.blogspot.com/

CAMILA de Araujo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CAMILA de Araujo disse...

Opa! Vou ler a parte 1 de novo.
Ja já comento por aqui, obrigada por avisar.

http://www.papel40kg.com

Unknown disse...

Ótimo Blog...


Seguindo..


http://www.skinnysfromhell.co.cc

Kelly Christi disse...

Bruno Costa, blog maravilhoso, achei ineressante esse joguete que fez com o tempo e a vida real.... os momentos se movem, Aline também se movia... nosso tempo é o quando...



http://www.pequenosdeleites.com.br

Mário Fernando Oliveira disse...

gostei do post^^

Mário Fernando Oliveira disse...

gostei do post^^

Bruno Coriolano disse...

esperando pelo resto do texto para poder formar uma opiniao.



grande blog.


MOCHILEIRO-DAS-GALAXIAS.
http://tinyurl.com/cgxs4dv
Publico, divulgo, comento e sigo de volta quem comenta no meu blog.

Jacqueline disse...

Você escreve muito bem.Parabéns pelo blog!

Marco disse...

texto grande

Marcella disse...

gostei muito do texto ta de parabens ;D

http://2lives1world.blogspot.com/

Unknown disse...

Gostei do texto .. bem interessante.



http://www.skinnysfromhell.co.cc

Unknown disse...

Você escreve muito, parabéns, estou seguindo seu blog

Mia Sodré disse...

Então além do guri ser meio que pervertido ele também fica criando teorias baseadas na física quântica? Ok, mas isso é meio que demais para uma só personagem. Afinal, ele é errado por espiar a menina ou é um nerd que faz teorias malucas sobre o tempo?
De qualquer forma, gostei bastante. Esse conto parece ser bem interessante.
Bjo.

http://miasodre.blogspot.com/

M.alves disse...

Muito bom, espero a continuação. Se puder passa lá!

www.tecknews.co.cc

Unknown disse...

Vou seguir para poder acompanhar essa história que nos envolve a cada linha. Inspiração, blogueiro, inspiração!

Heitor Falcão disse...

Já havia lido a parte um e gostei. Essa também foi muito boa, estou esperando a continuação agora, ehheeheh
Vc escreve muito bem.

www.heitor-falcao.com

Unknown disse...

olá de novo! Gostei da continuação...o que é interessante nesse post é a mistura da narração com suas observações e reflexões! Ficou muito bom de verdade!

Wanderly Frota disse...

Que beleza ver palavras tão interligadas e que dão vontade de ler cada linha seguinte!
Tornei-me seguidora!
:D

Alan disse...

belo texto
provasetrapacas.blogspot.com

Aline disse...

Texto bonito e bem escrito. Na expectativa da sequência...

Marcelle disse...

Você escreve muito bem! Adorei o texto. Vou esperar pela continuação. :)

http://albumdesonhos.blogspot.com/

Mário Fernando Oliveira disse...

muito bom mesmo ^^

Unknown disse...

very good. ^^

Bruna Sversutti disse...

Muito bom o post!!

Parabéns vc escreve muito bem.


http://my-literarylife.blogspot.com/

Larissa Duarte disse...

http://www.costabbade.blogspot.com/

Muito bom o seu blog. Me segue, que eu tô te seguindo :)

Joy Barreto disse...

Um feliz ano no vo pra vc, com muita paz, amor e muuuito sucesso sempre!
Até breve ;)
Beijos

http://joycebc.blogspot.com/

Gabriel Pozzi disse...

grande Bruno!!
cara, só agradeço pelos elogios ao meu blog!! acompanho o seu desde o começo de 2010 (olha, já estamos em 2012), com aquela série sobre os 7 pecados, e tenho que dizer que é um dos meus favoritos quanto a textos, contos, crônicas... você escreve muito bem, acho que sabe disso!

no mais, quanto aos questionamentos do ultimo paragrafo, é engraçado, eu tinha um professor que tbm se formou em psicologia, e o assunto favorito dele era o tempo. claro que ele não falava nos termos da sua narração, mas eram as mesmas dúvidas, as mesmas conclusões, as mesmas inquietações!!
dá um pulo pra avisar qdo sair a terceira parte!!! :)

http://songsweetsong.blogspot.com/

Lucas Montenegro disse...

Bem legal Bruno!
Interessante a primeira parte, e apesar de já ter gostado bastante dela e do estilo de narrativa, percebi depois com a segunda que a profundidade pretendida com um texto que inicialmente parecia despretensioso é bem maior. Um questionamento até mesmo filosófico, e expressado de forma bem criativa!
Sempre gostei bastante do seu blog, e você continua mantendo o nível que já aprendi a exigir, ainda bem.

Abraço!

José María Souza Costa disse...

Agradavel o seu texto

CONVITE

Primeiro, eu vim ler o seu blogue.
Agora, estou lhe convidando a visitar o meu, e se possivel seguirmos juntos por eles. O meu blogue, é muito simples. Mas, leve e dinamico. palpitamos sobre quase tudo, diversificamos as idéias. mas, o que vale mesmo, é a amizade que fizermos.
Estarei grato, esperando VOCÊ, lá.
Abraços do
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com

Aline disse...

Mais um belíssimo texto, bem escrito... Agora espero a sequência...

Flávio Antunes Soares disse...

Li os textos postados aqui, são muito bons. Tu sabes trabalhar bem as palavras.

~ Starseed ~ disse...

Eu queria ser dona do tempo, em especial para voltar e arrumar. Mas acredito em reencarnação então dá no mesmo.