quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Os Pretéritos de um Futuro Verde-amarelo


Estavam quase, como que atônitos, ligeiramente aflitos, inteiramente desesperados. Isto é, no sentido mais forte do termo, não esperavam por tudo aquilo, nem mesmo pela notícia e desde agora, doravante não esperam mais qualquer boa nova.

Ora, onde estão todos vocês? Uns quantos movimentos repentinos e já não mais estão aqui. Tudo que se viu antes se foi. Sem rebates, silenciosamente. Pareceria um alerta antibélico se nós estivéssemos em guerra. Não há chuvas destrutivas nesta época do ano. Era para saírem, com o pouco do corpo, com a miséria da geladeira, com a vergonha da covardia. Não é uma desocupação, minha senhora. Tudo soa cinicamente como deve ser. Vocês simplesmente devem sair. Caminhem pelas beiradas, não façam alardes e nem mesmo dêem entrevistas. Tudo será resolvido, ainda que nunca o saibam; a nação agradece. O progresso já não vem a cavalo, tudo é muito acelerado. A luz é o limite ou será. O sossego é uma encruzilhada, o avanço segue a abrir avenidas onde houvera lares e aconchego.

Veja só que bela casa! Veja só que beleza este jardim. Foram-se os tempos. Visitem-nos com suas máscaras e não atravessem a rua fora da passarela. Olhem ao longe, quando muito lá por cima. Já não há portas para bater, as janelas não revelarão mais qualquer paisagem. Cuidado com os futuros, rapaz.

Ali, onde estavam, longe, é difícil tornar a sentir a vizinhança. A herança não é muita. Não seremos convidados para as festividades. Torçam pelo Brasil, todos vocês, todos nós. O governo não fala por nós. Fostes pegar o último girassol e ele já não olhava para o sol? Está distante, como a observar a descida de outra plataforma, ali por cima, sobre a pilha de paralelepípedos. Quem as largou aqui, não queremos namoro. Está como que entregue a má sorte, sob a pilha, já concretizada. Despediu-se do sol, o grande curioso que quase a tudo espreita a querer ver, que se levanta em meio à poeira dos passados que ficam para trás.

Em molduras as crianças não correm pelos corredores, não quebram jarros com bolas; estão ali para sempre ficarem. É o que se pode.
Façam silêncio, por favor. Não necessitam se incomodar com a porta. Não teremos os vizinhos. Você está cansado. Aperte minha mão de luva empoeirada, levante o capacete e sorria para o ponto vermelho. Pegue o cheque na saída. Foi esse o acerto final. Acerto certeiro. Via de mão única; inaugurada! Os holofotes criam o espetáculo. Estejamos longe, estou farto de modernidades. Meu bem, a civilização é uma barbárie. 

Enquanto isso ligue a tevê. Vão começar os jogos.