segunda-feira, 16 de junho de 2008

Quanto vale?

Muito se fala hoje, em nossa sociedade, sobre uma grande mudança de nossos valores. Há ainda quem diga que simplesmente não os temos. Podemos notar grandes variações nos diversos modelos institucionais, como educação, emprego, moradia, casamento, família e, até mesmo a idéia de identidade.
No entanto, fazem-se necessárias algumas reflexões sobre o assunto. Talvez, devêssemos buscar analisar melhor, quais valores operam em nosso meio; percebermos quais pressupostos e preceitos funcionam no mundo contemporâneo. É claro que, não podemos aqui, contemplar a amplitude deste tema. Porém, creio que podemos ponderar acerca de algums lógicas que se fazem valer na atualidade.
Logo de início é preciso constatar o óbvio: nossa sociedade tem como "motor", o consumo. Todavia, um olhar mais aprofundado poderá notar que a questão não passa apenas por uma simples relação "compra-venda" de produtos, mas que, toda noção de liberdade comparece a esta lógica. O livre arbítrio proclamado na era neo-liberal não passa de uma liberdade para consumir. Nas propagandas mais diversas recebemos nossa alforria; "seja quem você quiser", à vista ou à prazo, débito ou crédito. "Aqui você pode!".
Nossos ideais de justiça escarnecem dos movimentos sociais e encontram abrigo no Procon e, nossa cidadania, carrega debaixo dos braços o código de defesa do consumidor. Eis os seus direitos.
A mídia proclama este axioma e captura a vida social, produzindo subjetividades faltantes, ávidas pelo consumo instantâneo e descartável. Um consumo de modas. Das roupas das novas coleções aos mais vendidos best sellers do momento. Na internet, um mundo de informações para você engolir, é claro, sem precisar ter o trabalho de mastigá-las. Imersos estamos no mundo das representações e o pensamento já não se faz mais necessário. O mercado de trabalho modifica-se a cada momento em cursos, livros, revistas e palestras para você se "atualizar" na corrida para ser o próximo Justos. Pura, ou melhor, impura ilusão que assenhoreia nossos sonhos e desonra nossa realidade.Nos tornamos consumidores de tecnologias descartáveis, celulares, televisores, sempre outros quando temos os nossos. Compramos estilos, programas, entretenimento. "Veja o que de legal vai acontecer. Você não pode perder".
Corpos inadequados, fora de forma, mas sempre empenhados em conseguir o corpo perfeito. Cabelos lisos e escovados. Curvas definidas, musculos malhados, calorias contados. Prontos para o consumo, para a cobiçada vaga no mercado das relações. Tarefa ingrata de estar em harmonia com os últimos modelos estéticos lançados pelo Photoshop. Permanecemos incansáveis, porém sempre constrangidos pela eterna inadequação. Modelos divinizados, servos culpados.
Toda essa lógica de ideais, leva, naturalmente, ao processo exclusão das más cópias, os incapazes. Todos os desataptados, pelos mais diversos motivos, são lançados fora. Lixo. Não vale nada. Axioma produtor de violência no cotidiano; das relações invisíveis às mais divulgadas pela imprensa. João Hélio para os assaltantes; empregada doméstica para os playboys; índio para os meninos de Brasília. Não servem.
E pra você? O que vale?

Bruno Costa