sexta-feira, 16 de maio de 2008

Além do que se vê!

O ano de 2008 tem sido um ano de comemorações.
Refiro-me as comemorações aos 200 anos da chegada da família real portuguesa no Brasil! Pensando sobre este fato, é preciso refletir sobre o significado daquele e desse momento.
Inicio do século XIX – caracterizado pelo fim do Brasil Colônia e o início de um Brasil Império: escravos, luta, corrupção, covardia, agressão... nada muito diferente do que temos hoje.. em 2008 no Brasil da República, país do futuro!
Como colônia fomos governados por um Império Português, que detinha poderes econômicos, políticos e culturais sobre o Brasil. A realidade dos anos oitocentistas ainda impera nos anos 2000, porém não tão crua, um pouco menos visível. Uma exploração constante de um Brasil colônia – desde sempre – explorado por “matrizes”.
Regalias para uma corte “privilegiada”, “merecedora” do bom e do melhor, “superior”... fosse pela linhagem sanguínea de uma realeza ou por consentimento divino de outrora (como nos tempos medievais), porém sempre com privilégios. Colonizadores que aqui queriam viver como se fosse Europa, num país em que os colonizados já tinham sofrido um processo de civilização e “forçados” foram a deixarem seus costumes e crenças em nome da “civilidade”. Refiro-me a grupos como os índios e os negros, por exemplo, que por muitas vezes foram proibidos de manifestarem seus hábitos culturais locais e tiveram que se adaptarem a aspectos culturais que não faziam parte de seus costumes, assim como as redefinições do panorama urbano da época.
E hoje o que somos? O que absorvemos? O que criamos? O que recriamos? De fato não é uma resposta fácil de desenvolver, porém podemos refletir sobre essas questões e analisar se nos anos atuais somos ou não ainda tão dominados? Seja o domínio por países que ainda impõe – diretamente ou não - seus aspectos culturais como sendo os “mais adequados”, seja por um sistema capitalista financeiro ou uma exigência do mercado de trabalho que te “força” a não estagnar, seja por um desenvolvimento tecnológico cada vez mais crescente, que nos condiciona a almejar sempre a última novidade ou por uma lógica desenfreada de um consumo exacerbado que “permite” sermos reconhecidos, desejáveis, aceitos, merecedores, amáveis, etc. No entanto os que vão contra algumas “regras” do mundo contemporâneo não são tão bem quistos, os que não são lindos, os que não “esculpem” os corpos, os que são pobres, feios, sem estudo, sem dente, sujos, o que passam fome, os que não moram bem, os que não tem perna, os que não ouvem, os que não seguem a ditadura da beleza, os que não se flexionam para serem absorvidos pelo mercado de trabalho, os que reivindicam seus direitos e muitas vezes recebem o olhar de vergonha pelo “outro” que prefere ficar calado numa situação de injustiça porque simplesmente é mais fácil assim, porque não quer chamar atenção dos que estão a volta e podem pensar mal dessa atitude. No mundo contemporâneo o “lema” é preocupar-se com o particular, pois não há tempo pra pensar no outro, é se preocupar em estar incluído nos padrões de um sistema capitalista que nos insere numa lógica cada vez mais veloz. E o discurso contemporâneo utilizado tem sempre a mesma conotação: indicar uma incapacidade daqueles que não se esforçaram para chegarem ao mesmo nível do vizinho, por exemplo.

Vale comemorar a dominação de um povo que ainda possui mais da metade de sua população vivendo abaixo da pobreza - num país com a maior parte do povo apático politicamente, que pouco exige seus direitos, que normalmente vota e no ano seguinte já não se lembra mais em quem?
Enfim, sabemos que além desses acontecimentos somos sim uma sociedade com diversas qualidades, porém faz-se importante pensarmos com clareza e enfrentarmos aquilo que tem nos consumido como seres humano.

Joyce Abbade.