quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Um Brinde aos Homens de Bem

Aos homens de boa vontade, de bom caráter e de boa índole... um brinde!
Aos que nascem, crescem, reproduzem e morrem. Aos de imagem e semelhança divinas. Aos que carregam o estandarte da verdade, da moral, da justiça. Filhos da revolução, do liberalismo, da modernidade. Da liberdade, fraternidade e igualdade. Júris da individualidade e do tribunal do juízo coletivo.
Saúdo também a família doriana: papai, mamãe e filhinhos, dos sorrisos, natais e aniversários. Os que afastam seus filhos das drogas e das más companhias, das favelas, dos sujos, dos estranhos. Difusores dos bons costumes, das normas, da ordem e do progresso; zelosos por um futuro melhor para sua descendência, e que fazem anátemas as cabeças vazias, resguardando sua prole nas escolas, nas aulas de inglês, informática, dança, natação, judô, violão. Sempre buscando as boas novas das mais altas pedagogias porque não querem seus filhos perdedores. Afinal, não há mais tempo nem lugar para uma criança vadiar...
Convido, é claro, os estudantes, públicos ou privados, que matam leões para conseguirem sua fatia. Aos que conseguem facilmente também. Aos que fazem pós e após novamente. Atualizados, preparados. Aos que não perdem tempo em lágrimas, mas trabalham. Aos que entendem a competição sádica sadia, feroz veloz, ambição inocente e o sistema neutro. Aos que vestem a camisa, disputam vaga, sonham com a mesa maior. Aos vencedores de cada dia.
Venham também os consumidores de bom tom, donos das rédeas do desejo. Aos que labutam no cotidiano, sem blasfêmias, e que valorizam as malhas finas, a qualidade, a quantidade, o conforto, o gozo do lazer na presença dos iguais, belos e vistosos, da vauguarda social. Aos que tem, aos que não tem, mas querem ter. Aos que terão. E aos faltantes constrangidos também. Aos protegidos, dos condomínios fechados e vigiados, seguros e completos. Mundos privados. Corram com seus carros blindados, escuros e filmados. De onde não são vistos e se fazem temer.
Não poderia esquecer os homens das boas obras. Que lotam as igrejas nos domingos e durante a semana também. Aos que fogem à roda dos escarnecedores e lançam as esperanças na Terra Prometida; filhos da inocência, dizimistas fiéis. Sejam conosco, servos da indiferença. O cálice que ergo e ofereço não traz vinho, apesar de carmesim.
Venham todos, dos fóruns, delegacias, laboratórios, hospitais, empresas, centrais, igrejas, universais, consultórios, bancos, praças. Venham de Brasília, pois lhes esperam os juízes, advogados, policiais, cientistas, médicos, publicitários, empresários, jornalistas, padres, bispos, pastores, donas de casa, analistas, pesquisadores, eleitos. Nesse encontro da pureza, onde Pilatos nos espera... Deixem seus ternos e gravatas, uniformes, vestidos e jalecos. A história merece este momento.
Finalmente, um brinde ao sangue, com sangue. Não o de Cristo! Mas o meu, o seu, o nosso. Homens de bem... à vida nossa, de morte lenta, coração agridoce.
Aos homens de bem... um brinde!

Bruno Costa