quarta-feira, 27 de maio de 2009

Museu e Loucura

Terça feira dia 18 de Maio comemorou-se o Dia Internacional de Museus, e por uma feliz coincidência esse também fora o dia escolhido para ser comemorado o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial. Alguns podem estar se questionando o que um museu e o conceito de loucura podem ter em comum. Pois bem, lendo uma matéria sobre o Museu da Loucura, que se localiza na cidade de Barbacena (Minas Gerais), pude refletir a cerca desse assunto e lançar o meu olhar para além dos muros museológicos.

Gostaria de pensar sobre memória; que, apesar de inicialmente não parecer, possui maior significado em sua relação com o presente do que com o passado. Quando nos remetemos a nossa memória; na verdade o que fazemos é retomarmos aqueles momentos de outrora com o olhar do presente, com aquilo que somos hoje; o que nos permite perceber que a memória se faz em tempo atual e a partir da experiência de cada um. É a partir desse exercício de lembrar que possibilitamos ver o mundo de maneira diferente a cada dia, enfatizando que a partir desse ato se permite afetar e sermos afetados de diferentes formas. Claramente podemos pensar também que aquilo que não se é lembrado... possivelmente será esquecido por algum momento. Selecionar o que se enaltece, o que se exalta, o que se silencia, por exemplo, faz parte de uma das práticas de um museu, a partir da história que se constrói no mundo.

O museu como espaço cultural deve buscar valorizar as diferenças e possibilitar diversas experiências e encontros entre os visitantes, entre o objeto e o visitante e até mesmo entre a instituição e o visitante. O museu ressalta a importante de uma consciência social; de uma história construída em conjunto; em que cada pessoa participa passiva ou ativamente, interagindo com o ambiente, com a economia, com a política, etc. O museu ao contrário do que muitos pensam, não é lugar de coisa velha, de passado, de coisa que ninguém mais quer, pelo contrário, o museu é sim um lugar muito atual, espaço em que se permite a reflexão; seja do passado, presente ou futuro. O museu é lugar de memória. E a memória se traduz no presente.

De acordo com Ana Cristina Audbert, em seu artigo intitulado “O Museu da Loucura traz a redenção do sofrimento e da exclusão”, o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial no Brasil existe desde o final dos anos 80, sendo as primeiras manifestações oriundas dos anos 70, como critica ao modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico, logo “inspirado na experiência italiana de desinstitucionalização psquiátrica a partir do trabalho de Franco Basaglia e tendo como interlocutor Michel Foucault (1926-1984), o movimento, de caráter social, buscou no início uma humanização do hospital psquiátrico através da complementação deste modelo com ambulatórios, hospitais-dia, etc”, favorecendo um tratamento mais humano, social e coletivo e entendendo que a produção da loucura como qualquer outra produção social, no modelo econômico vigente, não se desenvolve só internamente, a partir apenas do individuo, mas sim a partir, também, de um contexto social ao qual a pessoa se insere.

Podemos perceber que o caráter excludente da sociedade capitalista se fez presente também dentro dos hospitais psiquiátricos. A lógica moderna de exclusão, daqueles que não são capazes de possibilitarem retorno econômico ou social, os considerados "improdutivos ", vigora com toda força. Sendo assim os que possuem alguma “anormalidade”, os que saem do “padrão da lógica capitalista”, aqueles que têm uma limitação física ou uma alteração mental, por exemplo, são vistos como diferentes e nesse contexto contemporâneo, a diferença é vista como algo ruim, pois o que impera, são milhares de tentativas de nos tornarem cada vez mais padronizados; e nessa realidade da padronização, o diferente também deve ser incluído em algum contexto, em alguma instituição, torna-se portanto, padrão.

Um dos fatores que pode aproximar a instituição Museu e o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial é portanto o fato do museu ter como uma de suas funções a difusão de uma consciência social que será lida a partir de cada experiência, possibilitando assim a reflexão, a experiência; ressaltando a diferença e o respeito ao olhar do outro como fatores favoráveis. O Museu de Loucura em especial, como afirma Ana Audbert, cumpre sua função social e reaviva momentos marcantes da história que não devem ser esquecidos, como, por exemplo, a história da psiquiatria brasileira. O Museu da Loucura visa, também, preservar a história do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), possibilitando com isso, promover a reflexão sobre o assunto e reafirmar a necessidade de uma busca pela humanização dos tratamentos em saúde mental.

Joyce Abbade.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Encontros

Diante de seu computador , ele olha o formulário. Acreditando ser útil e eficiente, decide preenchê-lo. Nome, telefone, e-mail, sexo, idade, foto etc. Bom, até aqui, nada de muito.
A segunda parte do cadastro começa a deixar para trás as respostas prontas e adentra um território um pouco menos objetivo. Ele para e observa o questionário. Anima-se. Afinal já está só há alguns meses e seus amigos mais confiáveis aprovaram o site. Inclusive sua melhor amiga está noiva de um rapaz que conheceu pelo mesmo processo, tamanha a eficiência do serviço. Então ele retoma. Orientação sexual, programas favoritos, qualidades e defeitos, o que uma mulher deve ter etc.
Pronto estava para a terceira e última parte quando percebeu o "tom" das perguntas, agora bastante íntimas. O que faz na primeira transa, com ou sem camisinha, sexo oral, posições preferidas, fantasias etc. Aquilo já era demais! Pensou em desistir, porém notou serem questões optativas. Alívio. De qualquer forma, preencheu algumas para levantar a bandeira de moço sério e responsável, nenhuma mentira.
Antes de confirmar o cadastro, duvidou. Será que era seguro? Besteira. A empresa garante sigilo e segurança totais para seus membros. Mas será que daria certo? Claro que sim! O programa foi criado por dois psicólogos especializados em relacionamentos amorosos; pouco provável que não funcione. Confirma.
Instantaneamente aparecem mais de dez opções de mulheres, selecionadas automaticamente de acordo com seu perfil. "Maravilha!", vibrou. Era a tecnologia em prol da felicidade do homem. Chega de encontros ao acaso, essa ansiedade pelo desconhecido, misto de doce e amargo, vulnerabilidade humana. Queria só o mel. Sabe como é difícil se relacionar com sucesso. Sofrimento... não mais. Basta! Não podia perder mais tempo em outra relação incerta.
Seleciona a mais bonita da lista e clica em "Enviar convite". Preenche os dados do encontro. Local, dia, hora etc. "Como este site é completo!", exclama. Finalizou deixando uma mensagem: "Olá! Encontrei vc aqui e espero te conhecer logo. Agora ñ tem erro, rs. bjs"

... ... ... ...

Entra num bar com os amigos. Lugar cheio. Indo buscar uma bebida, esbarra em alguém. Pede desculpas e é respondido com o mesmo pedido. Sorri. Sendo simpático, apresenta-se. "Meu nome é...". Começam a conversar.


Bruno Costa