sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Vida dos Monumentos - parte 1

O céu aberto da manhã de mais um dia, dos quais chamamos úteis, ainda que não se saiba exatamente para quem, clareia a normalidade dos andamentos dos movimentos quase reeditados, os mesmos de ontem, semelhantes aos de anteontem, provavelmente um prenúncio de amanhã. Em mais um dia aquecido pelo sol incendiado, os corpos caminham tranquilamente, despreocupados e bem distribuídos na geografia projetada da cidade. Apesar da inexistência das nuvens, a temperatura não é elevada e o ar que entra não chega a fazer escorrer o suor. Porém, para todo esquema bem desenhado existe um rabisco possível, uma discrepância real. Algo que desdenha do todo, mas cuida para não ser apagado com uma borracha. O senhor Esteves corre o quanto pode. O melhor seria, ainda, dizer que se apressa, aflito, inimigo ele mesmo declarado da perfeição.

Sem saber por onde começar, mal sabendo que ninguém seria capaz, talvez não venham a saber que de tudo que aparece seu ponto de origem nunca se apresenta, ainda que se diga "eureka", traga-se alívio e ilusão, é acalentado pela jornalista que resolvera recebê-lo sem hora marcada. Lembrara de seu avô, a pouco falecido, a quem pouco visitava quando vivo. O trabalho não era pouco e o tempo, desconfiamos, está mesmo quase extinto. Movida assim, digamos, por motivos pessoais, recebe o ofegante senhor Esteves. "Beba uma água, senhor Esteves; acalme-se antes de falar". Ele consente e empurra goela abaixo aquela água pesada, pois apesar da garganta seca, o que o levou a beber foi puramente um sentido de estratégia, para evitar que saísse da bica da jovem o velho chavão de que os velhos são um tanto quanto teimosos, efeito da idade, diriam. Conquistaria assim, a atenção da moça e uma pré-credibilidade a seu infame discurso.terminadas as conversações, percebeu que não comovera a jornalista, que pedia que pensasse melhor , tentando convencê-lo do quão absurda era sua ideia, mas eufemisticamente falou, afinal, ela ainda respeitava os mais velhos. Ao fechar a porte para aquele senhor, pensou no que aconteceria se aquela notícia se tornasse publicada, em como reagiria aquela sociedade em ler que as estátuas da cidade eram literalmente feitas dos próprios modelos, "Homens estatualizados vivos!", sem contar a necessidade de inventar a palavra. Dali a pouco pegaria o telefone. Era hora de contatar; a quem, não se sabe. 

O senhor Esteves saíra do prédio desnorteado, desoesteado, deslesteado, dessulado. Uma ligeira vertigem o tomara de assalto, levando consigo as variadas cores, algumas delas, e escurecendo-lhe as vistas em plena luz da tarde. Passara o horário do almoço e nem mesmo o café da manhã, sua sagrada refeição, havia degustado. Pensou em retornar a sua casa, a pensão onde vivia e ultimamente sobrevive. (Todavia), o alarde criado nas últimas semanas por seu desatinado desespero levou o tal lugar um estado de alerta e aumentando ainda mais seu temor por um perigo eminente.

Após um pequeno desjejum, pois refeição não se poderia chamar, decidiu ir até seus pertences , em especial os seus documentos, a fim de extinguir-lhes todos para que dele não se tenha registro oficial. Não se estatualizaria um "Zé Ninguém" e, por outro lado, não se procura um foragido que não existe. A caminho de uma cidade outra, ao tempo de uma viagem sem rumo, pensaria numa nova identidade, nosso grande vício. Ora, mas não é exatamente isso o que fazem os conselheiros da cidade? Não são eles quem decide quem deve ou não ser transformado em estátua, em monumento, em patrimônio histórico e público, enquanto escolhem o que deve ser lembrado, o que vai para lápide, o que se tornará memória e o que se tornará esquecimento. Para este senhor as ideias não se aclaram, a fugacidade, a incerteza, a idade que nem mesmo a si já lhe confia. Na trama das teorias conspiratórias, passara pela entrada de sua rua e não se tinha apercebido, mas felizmente perdido por inteiro não estava. Ali, lembrava ainda do lugar o qual o acaso, ou o descompasso o levara.

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28 comentários:

Lucas Adonai disse...

Muito bom ;D

Lillo G. disse...

PUTZ! ÓTIMO TEXTO. REALMENTE ESSE FOI UM CARA CORAJOSO EM QUERER APAGAR DA EXISTÊNCIA DESSE NOSSO PAÍS, O PRÓPRIO NOME. UM DIA QUEM SABE EU TB FAÇA ISSO.

DEPOIS PASSA LÁ:

http://thebigdogtales.blogspot.com/2011/10/blues-do-al-capone.html

Anônimo disse...

seguindo vc man, segue la? desde ja agradeço

http://www.playcomputadores.blogspot.com

Meninas & Mulheres disse...

seguindooo , me segue tb ?


http://meeninasmulheres.blogspot.com/2011/10/ganhando-dinheiro-com-seu-blog.html

Emy disse...

Adorei adorei os textos! Muito bom
to seguindo, se puder segue tbm

http://inlifememories.blogspot.com

Matheus disse...

Vou seguir o blog porque realmente gostei deste conto e quero ver a continuação.

http://pelotaonline.blogspot.com/

Blog da Dani disse...

muito bom, gostei da narrativa =)

Jéssica S. disse...

Muito bom! Você estar de parabéns,ótimo escritor!

Estou te seguindo! Me segue?

http://jessyautorias.blogspot.com/

André Narciso disse...

"Cada monumento tem sua história."

Ótimo texto,só que não consegui ler tudo.Boa Sorte aew!

Diamonds Fashion disse...

PUTz, texto enorme mais valeu apena ler, otimo seu blog!

Lucas Montenegro disse...

Bom texto! Ainda não consegui decidir se é alegórico ou simplesmente ficcional, acho que vai dar pra saber a partir da continuação né.

Você tem idéias muito boas, sempre curto a criatividade dos seus textos!

Aliás, espero que não se importe com uma crítica construtiva, mas eu achei que a 1ª frase do segundo parágrafo, que tem 3 linhas, ficou meio confusa e de difícil compreensão, apesar de que depois dá pra captar o sentido pelo restante do parágrafo. Só isso.

Abraço!

Se informe já! disse...

Muito bom o texto e espero que tenha continuação.

Abraços.

Unknown disse...

um amigo em comum já tinha falado deste blog! agora eu resolvi conferir! sinceramente me surpreendeu! gostei da sistematização das ideias e do designe do blog! parabnes! estou seguindo pois quero ver o final desta história!
blogestarcomvoce.blogspot.com

Léo disse...

Nos estatualizamos a cada dia pela escravização rotineira do tempo.

Bruna Henriques disse...

mt bom o texto...
http://my-diary-teen.blogspot.com/

Anônimo disse...

ótimo texto, realmente, faz com que reflitamos ....
abs

https://www.facebook.com/pages/Ana-Lucia-Nicolau/141689705876641

Iguimarães disse...

maldito tempo

Fernanda disse...

Excelente texto, Bruno, fiquei muito impressionada! Amei (eu que sou viciada em neologismos) o "deslesteado, desoesteado, dessulado", hehehe... Genial! Ah, acredito você quisesse expressar perigo "iminente", ou seja, algo que está prestes a ocorrer. No segundo parágrafo, uma correçãozinha: "há pouco falecido". Beijos e MUITO sucesso no blog!

Blog da Dani disse...

fiquei curiosa pra saber a continuação =D

muito bom

Anônimo disse...

olá linda postagem....interessante blog
tenha uma bela manha

segue meu blog:http://cartasdeumcoracao.blogspot.com/

abraços!!!!!

Micael Araújo Andrade disse...

Morrer como estátua seria quase vida eterna, ou seria morte eterna?Rsrsrs!
Bom texto!
Deveríamos "estatualizar" Brasília.

PuZzle disse...

Ótimo texto. Parabéns!

Paulo Cesar PC disse...

É uma história com todos os ingredientes necessários a prender a atenção dos leitores. E quando isso acontece, é sinal que a leitura foi bem compreendida por todos. Muito bom! Parabéns.

Lucas Adonai disse...

Achei muito legal!

Unknown disse...

Ótimo blog e esse plano de funto está fantastico!

Diogopensamentos.blogpsot.com

Jéssica ;D disse...

Adorei, vou continuar seguindo.

Diamonds Fashion disse...

Muito legal, amei esse blog e o texto é sensacional

Unknown disse...

Fantástico man!!