Iremos visitar a marca das barbáries. É um reduto dos povos da recusa, nos dizia o homem. Tomaremos o devido cuidado. Não podemos encará-los abertamente, pois não sabemos o que se pode desencadear. Mais parece uma cidade inteira, pelo seu tamanho. O cheiro fétido estende-se ao longe, quase se pode vê-lo ainda do outro lado a ressoar em nossas narinas civilizadas. As construções de tijolos expostos têm apenas algumas hospedarias pintadas de azul marinho, outras amarelo manga, outras laranjas, num tom curiosamente semelhante ao dos tijolos expostos. O homem diz fazer parte da organização, como um mosaico, rindo do que disse. Assim também não nos perderíamos, concluímos aliviados com a segura certeza.
Lá embaixo, na selva, estão ao relento. É cedo, mas muitos já saíram para retornarem apenas ao final do dia com alguma esperança e, talvez, uma cara amarrada. Não se pôde ver. À noite não me parece tão seguro um passeio como estes. Embora esteja tudo em franco processo civilizatório, como li numa das propagandas. Parece que vai haver o que chamam “roda de samba”, típico do Brasil, como bem sabemos nós desde o outro lado do oceano. Mas quando os encontramos em alguns cantos da cidade, ao ar livre, tem sempre o semblante fechado de miséria, como se a culpa nos coubesse no armário, como se estampasse numa blusa, como a dizerem-nos que não somos bem-vindos. Aos pequenos se consegue arrancar um sorriso, bastam alguns trocados, ou mesmo um biscoito.
É possível vê-los pelas janelas, pelas frestas das portas a se alimentarem, higienizarem-se a sua maneira. Por vezes, dá-nos a impressão de que as casas têm rodízios, pois é como se trocassem o tempo inteiro em alguns lugares mais que outros. Talvez, apenas aquelas estivessem nesse sistema de entrar e sair a quem queira. Não há muita clareza para se entender o que passa. O teleférico á alto, passa ao longe, mas perto o suficiente para se usufruir esse curioso passeio com o que chega às vistas. Deixam-nos entrar também, em quantidades pequenas, é claro, sem comprometer a integridade da viagem.
Final de passeio com o saldo positivo. Tem mais duas semanas de praias. Já foram Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Teleférico no Complexo, o último riscado. Ninguém morreu ou sequer se feriu. Voltarei ano que vem e trarei minha família, e claro, alguns brinquedos para doação. Não se pode fechar os olhos para miséria, é necessário ajudarmos. Com o dinheiro que se tem vê-se muito. Não tudo. Definitivamente, volto ano que vem.
21 comentários:
Fiquei um pouco confuso, que lugar é este? Me parece um país africano, mas depois ficou tão Brasil. Mas se você está do outro lado do oceano.
Pois é, parece que no brasil vivemos entre os prazeres e as ocisas ruins que não conseguimos nos livrar ou aceitar.
http://www.pequenosdeleites.com.br
O lugar é o Complexo do Alemão e a questão é o turismo da miséria. O turista não está do outro lado do oceano, ele conhece o que se diz desde o outro lado do oceano, é diferente.
Estou aqui pra agradecer por sua visita em meu blog
sempre q quiser sinta-se a vontade a voltar..
Ah! muito bom o texto
parabens!
^^
http://ministerioartecomdeus.blogspot.com/
Olá, obrigada pela visita..seguindo vc, me segue? Um ótimo Domingo, bjusss
http://angelmartinss.blogspot.com/
É muito bem escrito e por sinal, trás uma narrativa muito bem contextualizada. Um grande abraço.
obrigado por visitar meu blog.
www.yescabelo.com
Scesso!
É o Brasil mostrando a sua cara.
Eu não sei se vejo favela um lugar tão de miséria assim. Conheço pessoas que ganham relativamente bem e que são moradoras de favelas. Acho que nas grandes cidades há muita pobreza, mas miséria, miséria meeeeesmo, não.
Parabéns muito legal seu blog !
interessantissimo !
Adorei o texto , forte, tocante e realista !!
http://dupladameianoite.blogspot.com/
Esse lado miserável é a imagem que alguns turistas têm do brasil (e principalmente das favelas). Há os que acham que é só dar uma esmola, que estão fazendo a sua parte. Não é bem assim.
Parabéns, é um texto muito pertinente para o momento.
hummm Otimo texto.. foi vc mesmo q escreveu?? muito bom mesmo viu *-*
gostei tbm do post de baixo
"o carpinteiro e a canga verde limão" ...
me senti visitando o complexo sem nunca, de fato, ter ido lá. muito bem escrito... :D
otimo texto
escreve muito bem
^^
http://ministerioartecomdeus.blogspot.com/
Olá,
vocês tem excelentes textos, com uma argumentação bem apropriada. Mas devo confessar que o desing do blog deixa a desejar com o conteúdo. Procure algo mais leve, deixe o blog com a cara de sua escrita.
Isto me lembrou a terceira margem do rio, fui muito além...
se quiser verbalizar:
http://eisolteoverbo.blogspot.com/
Podemos ajudar os outros de tantas formas. As vezes, os bens materiais não são a verdadeira carência do povo. Existem coisas bem mais importantes em nossas vidas e que podemos compartilha-las com os outros de bom grado. Excelente texto!
Atualmente a preocupação parece estar em tantos outros assuntos que, muitas vezes, sequer nos importamos com a miséria ou até a pobreza, como queiram. É verdade... triste dizer isso mas o fato é que no fundo poucos se importam. Os pobres não vão para as ruas fazer suas exigências.. talvez desejem, talvez não. A classe média vai para as ruas, mas geralmente pelas "causas de classe média". E o que fica é a preocupação com as Olimpíadas, a Copa do Mundo, as remoções para construção de avenidas, a limpeza da cidade... E ainda que essas coisas tenham seu lado positivo para a sociedade, o dinheiro é o que está em jogo, o quanto será lucrativo, o quanto renderá ao turismo. O que tem se feito dos "outros", aqueles que não deviam estar aqui ou ali, isso não é interesse, apenas quando "esses" tornam-se espetáculo rentável! Parabéns pela leve escrita do texto... ótimo tema para reflexão!!
ótimo texto! Para mim a educação é a base de tudo, antes inclusive do dinheiro!
muito bom!
Somos assim e seremos assim o mundo o Brasil e tudo mais giram assim infelizmente é quase impossivel quebrar essa corrente
É como a visão cinematográfica de um gringo percorrendo a miséria brasileira.
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