Já passavam das 11 horas da noite e a casa estava cheia. Era quase sempre assim, nesta época do ano. Muitos de férias ficam além da conta. Outros tantos são os turistas estupefatos e curiosos, sedentos por conhecerem o local e, é claro, consumirem as sensações da droga, embora nenhum usuário lance mão de tal batismo. Afinal, ela não era ilícita; totalmente legalizada. Era o “livre amor”, como enunciavam os amantes orgânicos.
Ela então, adentra a noite. Bem vestida como nunca, insegura como sempre. Há três semanas sem freqüentar a boate, esperava um fôlego novo. Nada. Da última vez em que tomou a dose, jurou que não faria novamente. Alguns diziam que beirava a dependência, outros não necessitavam, e havia os defensores dessa espécie de “embriaguez romântica”. Mas ela sentia culpa. “Posso viver sem isso!”, afirmou imponente.
Alta, magra, loira dos olhos azuis e um nobre par de seios. Percebe a movimentação e a disposição dos corpos. Casais se formam, uns após outros. Tensa, envereda para a pista de dança, na esperança de atrair cobiça. Não queria terminar a noite sozinha. Vai ao bar e bebe uma Cuba Libre. Troca olhares. Nada que lhe envolva. Pensa, resiste. Retorna para a pista. Importunada pelo rapaz, olha em volta. Porém, já não acreditava que conseguiria companhia melhor. “Talvez mereça uma chance”, pensa ela, fatigada por esperar seu príncipe. Novamente no bar, conversam bastante. O bem-sucedido rapaz não lhe suscita nenhum ardor de atração.
Titubeante, não sabe se pede ou não. Mas na esperança incrédula de uma possível descoberta, ela chama o barman e pede: “Uma dose de afeto, por favor...da vermelha!”. Ela bebe e pouco depois, trocam a boate frenética e atraente pela casa do afortunado rapaz.
Num momento de diálogo, após algumas horas de sexo, entorpecida e encantada, ela pergunta:
– Quando nos veremos de novo?
– Talvez no próximo mês. Viajo muito por conta do trabalho.
Desiludida com seus planos de namoro, toma uma decisão antes que seja tarde. Levanta-se, vai ao banheiro e fecha a porta. Enfia o dedo goela abaixo. Repetidas vezes o faz, livrando-se daquela paixão, agora, novamente indesejada. Após dar a descarga, sai do banheiro, pega suas coisas e vai para casa, já pensando em mais um dia de trabalho que a espera pela manhã.
Bruno Costa
Ela então, adentra a noite. Bem vestida como nunca, insegura como sempre. Há três semanas sem freqüentar a boate, esperava um fôlego novo. Nada. Da última vez em que tomou a dose, jurou que não faria novamente. Alguns diziam que beirava a dependência, outros não necessitavam, e havia os defensores dessa espécie de “embriaguez romântica”. Mas ela sentia culpa. “Posso viver sem isso!”, afirmou imponente.
Alta, magra, loira dos olhos azuis e um nobre par de seios. Percebe a movimentação e a disposição dos corpos. Casais se formam, uns após outros. Tensa, envereda para a pista de dança, na esperança de atrair cobiça. Não queria terminar a noite sozinha. Vai ao bar e bebe uma Cuba Libre. Troca olhares. Nada que lhe envolva. Pensa, resiste. Retorna para a pista. Importunada pelo rapaz, olha em volta. Porém, já não acreditava que conseguiria companhia melhor. “Talvez mereça uma chance”, pensa ela, fatigada por esperar seu príncipe. Novamente no bar, conversam bastante. O bem-sucedido rapaz não lhe suscita nenhum ardor de atração.
Titubeante, não sabe se pede ou não. Mas na esperança incrédula de uma possível descoberta, ela chama o barman e pede: “Uma dose de afeto, por favor...da vermelha!”. Ela bebe e pouco depois, trocam a boate frenética e atraente pela casa do afortunado rapaz.
Num momento de diálogo, após algumas horas de sexo, entorpecida e encantada, ela pergunta:
– Quando nos veremos de novo?
– Talvez no próximo mês. Viajo muito por conta do trabalho.
Desiludida com seus planos de namoro, toma uma decisão antes que seja tarde. Levanta-se, vai ao banheiro e fecha a porta. Enfia o dedo goela abaixo. Repetidas vezes o faz, livrando-se daquela paixão, agora, novamente indesejada. Após dar a descarga, sai do banheiro, pega suas coisas e vai para casa, já pensando em mais um dia de trabalho que a espera pela manhã.
Bruno Costa
20 comentários:
efemeridade, insensatez.. lembra um pouco camus .. afinal há mesmo um grande proposito pro trás de tudo que nos rodeia? abçs
Muito cara essa dose de afeto, e ela parece não se importar muito em pagá-la.
Bruno, obrigada pelo comentário no meu blog =)
beijo
a primeira bebida tinha que ser cuba libre??? hahahahahaha
Continuo icentivando e gostando do que vejo escrito aqui nesse blog.
Abração
olá.
curti o texto.
beijos
http://norecreiozero.blogspot.com/
Lindo e emocionante! Parabéns pelo blog! ;)
Bjos
Já dizia o poeta renato russo que o mal do século é a solidão...
Ótimo texto!
bjitos
http://www.pequenosdeleites.blogspot.com
amei.
rolou uma identificação estranhíssima. algo como se ela fosse uma personagem minha ou até, quem sabe, como se fosse aquela que um dia eu fui.
parabéns pelo blog.
parabens pelo blog
http://atocadopanda.blogspot.com
Aproveitando da idéia do William, "afinal há mesmo um grande propósito por trás de tudo que nos rodeia?"
Muistas pessoas vivem em constante busca por amor, afeto e companhia. Digo mais, essa será sempre uma busca constante, até que se encontre o verdadeiro amor! E brother, essa dose não custa nada, é só chegar no balcão pedir que o "Kara" o oferece de graça! =]
abraço ótimo blog!
Qm disser q os jovens estão nas boates só pela decadência estará errado. Acho q estão mais pelo romance e esperança e inspiração.
Parabéns pelo texto, Bruno! São sempre mt bem escritos!
Bjo!
Pois é. A vontade que dá é essa mesmo: a de se livrar da dosa quando me culpo por sentir. Mas no meu caso raramente consigo expulsá-la com rapidez, ela sempre permanece junto com a culpa pela não - razão que tanto menciono em meus blogs, típico de quem tem como ponto fraco a sensibilidade aguçada!!
Obrigada pelos comentários nos meus blogs- objetivas, eficientes e belíssimas palavras! E só pra constar, Adorooo os textos do Pessoa!^^
Muito bom o seu texto;)
add aos favoritos \o/
O mundo as vezes parece fútil, vazio e superficial e as pessoas também , mas ninguém consegue viver somente com isso e ser completamente feliz...
O teu texto me fez pensar ( haha )
otimo blog
Pequena dose de afeto e gigante ressaca de culpa.
Parabéns pelo blog, e obrigada pela visita, voltarei aqui sempre, adoro blogs de contos.
Poxa! Muito bom o seu texto! Às vezes me sinto muito sozinha também. Gostaria de encontrar uma pessoa bacana. Mas diferente da personagem do seu post, não frequento boates e não fico "à caça". rsrsrs Até porque não acho que seja o lugar mais apropriado. Estava te devendo essa visita desde o dia 4 de agosto num tópico de comentar o blog abaixo e não o de cima. Mas esperei um tempo, não apareceu ngm eu saí do tópico. Aqui está. Pra vc não pensar que sou caloteira. Valeu a visita. Gostei do texto. Pobre menina. Que vida vazia.
mto bom
parece ficção científica. legal!
Noites e mais noites, quantas almas perdidas em quantos bares de quantas cidades, quantos se embriagam de amor numa noite e acordam mais vazios?
Belíssimo texto!
Muito envolvente o clima do texto. Tem um ar melancólico atraente, falando numa busca desesperada por amor, seja lá de onde vier, mesmo que depois tudo se var numa descarga! Parabéns!
Postar um comentário