Terça feira dia 18 de Maio comemorou-se o Dia Internacional de Museus, e por uma feliz coincidência esse também fora o dia escolhido para ser comemorado o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial. Alguns podem estar se questionando o que um museu e o conceito de loucura podem ter em comum. Pois bem, lendo uma matéria sobre o Museu da Loucura, que se localiza na cidade de Barbacena (Minas Gerais), pude refletir a cerca desse assunto e lançar o meu olhar para além dos muros museológicos.
Gostaria de pensar sobre memória; que, apesar de inicialmente não parecer, possui maior significado em sua relação com o presente do que com o passado. Quando nos remetemos a nossa memória; na verdade o que fazemos é retomarmos aqueles momentos de outrora com o olhar do presente, com aquilo que somos hoje; o que nos permite perceber que a memória se faz em tempo atual e a partir da experiência de cada um. É a partir desse exercício de lembrar que possibilitamos ver o mundo de maneira diferente a cada dia, enfatizando que a partir desse ato se permite afetar e sermos afetados de diferentes formas. Claramente podemos pensar também que aquilo que não se é lembrado... possivelmente será esquecido por algum momento. Selecionar o que se enaltece, o que se exalta, o que se silencia, por exemplo, faz parte de uma das práticas de um museu, a partir da história que se constrói no mundo.
O museu como espaço cultural deve buscar valorizar as diferenças e possibilitar diversas experiências e encontros entre os visitantes, entre o objeto e o visitante e até mesmo entre a instituição e o visitante. O museu ressalta a importante de uma consciência social; de uma história construída em conjunto; em que cada pessoa participa passiva ou ativamente, interagindo com o ambiente, com a economia, com a política, etc. O museu ao contrário do que muitos pensam, não é lugar de coisa velha, de passado, de coisa que ninguém mais quer, pelo contrário, o museu é sim um lugar muito atual, espaço em que se permite a reflexão; seja do passado, presente ou futuro. O museu é lugar de memória. E a memória se traduz no presente.
De acordo com Ana Cristina Audbert, em seu artigo intitulado “O Museu da Loucura traz a redenção do sofrimento e da exclusão”, o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial no Brasil existe desde o final dos anos 80, sendo as primeiras manifestações oriundas dos anos 70, como critica ao modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico, logo “inspirado na experiência italiana de desinstitucionalização psquiátrica a partir do trabalho de Franco Basaglia e tendo como interlocutor Michel Foucault (1926-1984), o movimento, de caráter social, buscou no início uma humanização do hospital psquiátrico através da complementação deste modelo com ambulatórios, hospitais-dia, etc”, favorecendo um tratamento mais humano, social e coletivo e entendendo que a produção da loucura como qualquer outra produção social, no modelo econômico vigente, não se desenvolve só internamente, a partir apenas do individuo, mas sim a partir, também, de um contexto social ao qual a pessoa se insere.
Podemos perceber que o caráter excludente da sociedade capitalista se fez presente também dentro dos hospitais psiquiátricos. A lógica moderna de exclusão, daqueles que não são capazes de possibilitarem retorno econômico ou social, os considerados "improdutivos ", vigora com toda força. Sendo assim os que possuem alguma “anormalidade”, os que saem do “padrão da lógica capitalista”, aqueles que têm uma limitação física ou uma alteração mental, por exemplo, são vistos como diferentes e nesse contexto contemporâneo, a diferença é vista como algo ruim, pois o que impera, são milhares de tentativas de nos tornarem cada vez mais padronizados; e nessa realidade da padronização, o diferente também deve ser incluído em algum contexto, em alguma instituição, torna-se portanto, padrão.
Um dos fatores que pode aproximar a instituição Museu e o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial é portanto o fato do museu ter como uma de suas funções a difusão de uma consciência social que será lida a partir de cada experiência, possibilitando assim a reflexão, a experiência; ressaltando a diferença e o respeito ao olhar do outro como fatores favoráveis. O Museu de Loucura em especial, como afirma Ana Audbert, cumpre sua função social e reaviva momentos marcantes da história que não devem ser esquecidos, como, por exemplo, a história da psiquiatria brasileira. O Museu da Loucura visa, também, preservar a história do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (CHPB), possibilitando com isso, promover a reflexão sobre o assunto e reafirmar a necessidade de uma busca pela humanização dos tratamentos em saúde mental.
Joyce Abbade.
7 comentários:
Minha cunhada é cultura! Parabéns pelo texto. Bjs
krak no dia do meu níver (dia 18 de maio) se comemora algo relativo a museu e eu faço museologia kk
bjo!
Me senti desconectada do mundo agora haha, eu não sabia desta data =/
Muito legal seu blog viu
passarei mais vezes com certeza para conferir suas novidades
bjão
Torna-se importante refletir sobre a história da psiquiatria brasileira, que sustentava-se no modelo manicomial de "tratamento",numa lógica de internação para correção e cura, cronificando e institucionalizando, a partir do saber-poder médico-psiquiátrico, a loucura. Hoje, a Reforma Psiquiátrica possibilita outras formas de cuidar e atender pessoas com sofrimento psíquico grave. O museu ajuda pensar novas formas de lidar com a loucura, sem cairmos na tentação dos jogos de poder que enclausuram o sujeito.
Bruno Costa
Tem uma relação que você esqueceu de mencionar... museólogos são loucos! =P
Você esqueceu de mencionar uma coisa... museólogos são loucos! =P
hora. .mas o nosso povo é um povo que não gosta de frequentar museus.. logo é um povo sme memeoria e sem identidade pq não conhece seu passado.. se não tme identidade tão pouco vão incluir em seu meio aqueles que são menosprezados por não compactuarem com os padrões de sentido de viver... bem-avventurados aqueles que ainda tem memória pra lembrarem de suas proprias loucuras
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