sábado, 20 de agosto de 2011

Viagem ao terceiro mundo

Iremos visitar a marca das barbáries. É um reduto dos povos da recusa, nos dizia o homem. Tomaremos o devido cuidado. Não podemos encará-los abertamente, pois não sabemos o que se pode desencadear. Mais parece uma cidade inteira, pelo seu tamanho. O cheiro fétido estende-se ao longe, quase se pode vê-lo ainda do outro lado a ressoar em nossas narinas civilizadas. As construções de tijolos expostos têm apenas algumas hospedarias pintadas de azul marinho, outras amarelo manga, outras laranjas, num tom curiosamente semelhante ao dos tijolos expostos. O homem diz fazer parte da organização, como um mosaico, rindo do que disse. Assim também não nos perderíamos, concluímos aliviados com a segura certeza.
Lá embaixo, na selva, estão ao relento. É cedo, mas muitos já saíram para retornarem apenas ao final do dia com alguma esperança e, talvez, uma cara amarrada. Não se pôde ver. À noite não me parece tão seguro um passeio como estes. Embora esteja tudo em franco processo civilizatório, como li numa das propagandas.  Parece que vai haver o que chamam “roda de samba”, típico do Brasil, como bem sabemos nós desde o outro lado do oceano. Mas quando os encontramos em alguns cantos da cidade, ao ar livre, tem sempre o semblante fechado de miséria, como se a culpa nos coubesse no armário, como se estampasse numa blusa, como a dizerem-nos que não somos bem-vindos. Aos pequenos se consegue arrancar um sorriso, bastam alguns trocados, ou mesmo um biscoito.
É possível vê-los pelas janelas, pelas frestas das portas a se alimentarem, higienizarem-se a sua maneira. Por vezes, dá-nos a impressão de que as casas têm rodízios, pois é como se trocassem o tempo inteiro em alguns lugares mais que outros. Talvez, apenas aquelas estivessem nesse sistema de entrar e sair a quem queira. Não há muita clareza para se entender o que passa. O teleférico á alto, passa ao longe, mas perto o suficiente para se usufruir esse curioso passeio com o que chega às vistas. Deixam-nos entrar também, em quantidades pequenas, é claro, sem comprometer a integridade da viagem.
Final de passeio com o saldo positivo. Tem mais duas semanas de praias. Já foram Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Teleférico no Complexo, o último riscado. Ninguém morreu ou sequer se feriu. Voltarei ano que vem e trarei minha família, e claro, alguns brinquedos para doação. Não se pode fechar os olhos para miséria, é necessário ajudarmos. Com o dinheiro que se tem vê-se muito. Não tudo. Definitivamente, volto ano que vem.